Escola em Nova Veneza é destaque com projeto de acolhimento

Barreira linguística foi vencida com a contratação do professor-intérprete Lucas Souza. Ele auxilia a aluna nos exercícios e atividades didáticas e na interação e socialização dentro da escola (Fotos: Alexandra Rita e Ricardo Cardoso)

A experiência bem-sucedida de acolhimento dos estudantes, desenvolvida no Centro de Ensino em Período Integral (Cepi) José Peixoto, foi apresentada nesta terça-feira (28/11), em Brasília como um dos destaques da programação da Oficina Regional de Reassentamento e Vias Complementares.

O evento foi promovido pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) em parceria com a Organização Internacional para as Migrações, com o apoio do governo brasileiro.

Além de ensinar, a escola também tem uma importante missão, que é acolher os estudantes em sua diversidade. A partir de desafios vividos no dia a dia, o Cepi José Peixoto em Nova Veneza colocou em prática um projeto de acolhimento que tem alcançado bons resultados e ganhado cada vez mais visibilidade.

“A gente já tinha na escola várias crianças de origem nordestina, que vieram com suas famílias em busca de trabalho na região. Então as diferenças culturais, linguísticas e religiosas já eram um desafio a ser resolvido”, conta o professor Ricardo Cardoso, coordenador de Integração Curricular no Cepi.

Combate ao bullying

Segundo ele, o choque cultural ficou ainda mais evidente no final do ano passado, com a chegada de uma imigrante do Afeganistão. A adolescente Adeeba veio com sua família para Nova Veneza no final do ano passado.

“Naquele momento era preciso fazer algo diferenciado para acolher esses estudantes, promover a interação entre tantas pessoas diferentes e combater o bullying”, explicou o professor Ricardo, que também dá aulas de Matemática no Cepi.

E foi assim que surgiu o Projeto Ficar (Frente Interna de Conscientização e Acolhimento em Rede), uma iniciativa que busca trabalhar a diversidade de forma transdisciplinar e interdisciplinar. As ações do projeto envolvem os alunos, professores, a equipe gestora e as famílias dos estudantes, criando uma rede de apoio.

“Nós aproveitamos as mais diferentes situações para promover as relações de afeto aqui na escola. Isso acontece em sala de aula, nas eletivas, nos clubes, nas rodas de conversa, nos grupos de WhatsApp, nas atividades esportivas, em eventos culturais, nos passeios e em tantos outros momentos”, destaca o professor Ricardo, um dos idealizadores do projeto.   

Acolhimento

Para Ana Cristina Oliveira Santana Antunes, diretora do Cepi, a chegada de Adeeba na escola fez toda a diferença ao lançar o desafio de ser necessário melhorar a convivência entre os alunos e trabalhar na promoção do respeito e da valorização das diferenças no ambiente escolar.

“Adeeba veio para acrescentar, pois nos tirou da zona de conforto e nos fez ver o acolhimento de uma forma mais ampla. Ela chegou com muito medo de interagir e ser excluída porque isso já havia acontecido nas outras escolas por onde ela havia passado”, lembra Ana Cristina.  

Ao aceitar a matrícula da adolescente afegã, o Cepi precisou vencer um outro desafio até então impensado. Adeeba era fluente em inglês, mas não sabia nada da língua portuguesa.

A barreira linguística foi vencida com a contratação do professor-intérprete Lucas Souza. Ele passou a acompanhar a aluna durante as aulas, a auxiliá-la nos exercícios e atividades didáticas e na interação e socialização dentro da escola. Lucas diz que a convivência com Adeeba tem sido uma experiência única onde ele ensina e aprende ao mesmo tempo.

“A minha escola é perfeita”

Aos 12 anos de idade, a adolescente afegã, agora segura de si, dá exemplo de protagonismo no Cepi onde estuda. Com o apoio dos professores, ela criou um Clube de Idiomas, onde ensina Inglês para os colegas e, em contrapartida, aprende o Português com eles.

Durante uma conversa com a secretária de Educação, Fátima Gavioli, no gabinete da Seduc Goiás, Adeeba contou que o que mais a encanta aqui é a liberdade de ir e vir. No Afeganistão, um dos países com a maior desigualdade de gênero no mundo, esse direito é negado às meninas.

“A minha escola é perfeita e meus professores são incríveis. Lá eles dizem que eu sou a pessoa mais importante do mundo e é a primeira vez que eu me sinto assim. Eu sou muito feliz e essa escola é a melhor coisa que já aconteceu na minha vida”, afirma Adeeba.

Em tempo: O projeto Ficar também é um dos 40 selecionados para a final do projeto Estudantes de Atitude, promovido pela Controladoria-Geral do Estado (CGE) em parceria com a Secretaria de Estado da Educação de Goiás (Seduc). 

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