Crer reduz em 80% incidência de lesões por pressão na UTI
A pandemia trouxe novos desafios aos cuidados assistenciais empreendidos nos hospitais e unidades de saúde. Devido à condição clínica frágil dos pacientes acometidos pela Covid-19, as lesões por pressão (LPPs) tornaram-se preocupação mundial, mobilizando atualização de protocolos e revisão de processos assistenciais.
Durante os meses de abril e maio, o Centro Estadual de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo – Crer, tem reforçado os treinamentos das equipes assistenciais, dando ênfase especial às medidas de prevenção e tratamento das LPPs. Como resultado, a unidade do Governo de Goiás reduziu em 80% a incidência dessa adversidade na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
As LPPs – chamadas de úlcera por pressão até 2016 – são feridas causadas pela pressão intensa ou prolongada exercida sobre a pele. Normalmente, aparecem em áreas de protuberância óssea, as quais, no contato entre superfícies, causam lesões. Devido à pandemia, tornou-se perceptível uma mudança no padrão dessas lesões em pacientes com Covid-19.
A supervisora de enfermagem da UTI do Crer, a enfermeira Juliana Caldas de Souza, tem vivenciado cotidianamente o cuidado a esses pacientes e explica sobre os desafios enfrentados. De acordo com a profissional, as LPPs passaram a se tornar recorrentes na região frontal do corpo, muito em decorrência do posicionamento ‘pronado’, conhecido popularmente como de ‘bruços’, a que os pacientes são submetidos para garantir maior conforto respiratório a esses.
Condicionantes
“Devido à própria gravidade da condição clínica dos pacientes com dificuldade respiratória, o uso de drogas vasoativas, dentre outros fatores, há um conjunto de condicionantes que podem interferir na incidência desses eventos. Tudo isso se torna extremamente desafiador para a equipe assistencial e, justamente por isso, temos realizado um trabalho vigilante na prevenção de LPPs nas UTIs do hospital”, afirma a supervisora.
O Núcleo de Lesão de Pele (Nulp) e o Núcleo de Segurança do Paciente (Nusp) compõem a estrutura dedicada à segurança da assistência do Crer, e atuam de modo vigilante diante dos protocolos assistenciais. A unidade de saúde realiza constantes treinamentos junto às equipes assistenciais sobre a Escala de Braden, que é um recurso utilizado para mensurar o risco de os pacientes desenvolverem LPPs.
A partir do domínio dessa ferramenta, as equipes da enfermagem e de técnicos de enfermagem conseguem aplicar as medidas preventivas de modo a promover um tratamento eficaz aos pacientes.
Como medidas de contingência de danos aos pacientes críticos, o hospital possui colchões de superfície dinâmica, conhecidos, também, como colchões pneumáticos, em todos os leitos da UTI. Tais equipamentos são necessários para a prevenção de LPP nos pacientes, pois aliviam a pressão na pele e promovem maior conforto durante um período tão delicado como é a internação. Esses ferimentos podem causar agravamento da condição de saúde das pessoas internadas, e atuar de modo preventivo e vigilante faz parte da cultura de assistência segura da instituição.
Educação em saúde
Fabrícia Nayara Oliveira Limeira é enfermeira e atua como coordenadora da Residência Multiprofissional em Saúde Funcional e Reabilitação do Crer. A profissional trabalhou em sua dissertação de mestrado em Ciências da Saúde (Universidade Federal de Goiás) sobre o manejo e prevenção de LPPs e, como resultado, elaborou um programa de educação em saúde a respeito das LPPs.
Ela explica que a mudança de decúbito do paciente é uma medida essencial para se prevenir as lesões nos pacientes, seja no hospital, seja em casa mesmo. “A mudança de decúbito depende muito da pele do paciente. Cada pessoa tem um tipo de pele. Ainda assim, a literatura nos traz que é preciso realizar a mudança de decúbito de duas em duas horas. E dentro desse período, eu preciso avaliar a pele do paciente e verificar se tem alguma hiperemia, alguma vermelhidão na pele. Se houver alguma vermelhidão, às vezes a gente precisa reduzir este tempo de decúbito. Isso é algo que tem que ser verificado constantemente”, explica a enfermeira.
A profissional ainda diz que é preciso manter-se constantemente alerta sobre o estado da pele, a temperatura, a coloração, além da higienização e hidratação específicas. “É preciso hidratar a pele, dando preferência a cremes e sabonetes que tenham o mesmo pH (potencial hidrogeniônico) da pele, e hidratar-se, também, por via oral, tomando água. Além disso, o paciente tem que estar bem nutrido, com alimentação balanceada, de acordo com recomendações da nutrição”, afirma.
LPPs em profissionais
Muitos profissionais têm adquirido lesões de pele devido ao uso contínuo de Equipamentos Proteção Individual (EPIs). Trata-se de um importante recurso para a proteção desses profissionais, claro, mas que, com o uso durante longas horas de trabalho, acabam por desencadear lesões nos profissionais. Atualmente, não há muitos estudos a respeito da prevenção dessas lesões, por isso, recomendam-se as mesmas indicações de hidratação da pele, com aplicação de protetores que permitam a correta vedação do EPI.