Fapeg vai investir R$ 5,5 milhões em cinco anos para inovações feitas no Cempa

Cempa Cerrado já disponibiliza estimativas de temperatura e precipitação com antecedência de 10 dias e com um nível de detalhe espacial bem superior às estimativas de tempo atualmente disponíveis para o país

De acordo com dados coletados pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), o ano de 2021 foi um dos sete mais quentes já registrados. A temperatura, que é apenas um dos indicadores da mudança climática, ficou 1.11°C acima dos níveis da era pré-industrial (1850-1900). Como resultados dessas alterações, há impactos ambientais, sociais e econômicos por todo o mundo.

Diante disso, além de ações promovidas para a redução do aquecimento global, diversos países têm se unido e investido em desenvolver modelos atmosféricos aliados à tecnologia para realizar uma previsão mais detalhada do comportamento da atmosfera e assim prever possíveis tragédias. Em Goiás, está em operação desde janeiro deste ano o Centro de Estudos, Monitoramento e Previsão Ambientais do Cerrado (Cempa Cerrado), que oferece serviços como a previsão numérica do tempo, qualidade do ar e clima sazonal para o estado de Goiás, e em particular para a região metropolitana de Goiânia.

O professor do Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa) e integrante do comitê gestor do Cempa, Laerte Guimarães Ferreira Júnior, explica que, em caráter experimental, o Cempa Cerrado já está disponibilizando estimativas de temperatura e precipitação com antecedência de 10 dias e com um nível de detalhe espacial bem superior às estimativas de tempo atualmente disponíveis para o país. “Estas estimativas se baseiam no modelo BRAMS (The Brazilian developments on the Regional Atmospheric Modeling System), cujo desenvolvimento foi liderado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Uma versão do modelo BRAMS, customizada e calibrada para condições específicas do Estado de Goiás já está rodando no Laboratório Multiusuário de Computação de Alto Desempenho da Universidade Federal de Goiás (LaMCAD), cuja infraestrutura computacional foi ampliada para atender a elevada demanda de processamento numérico do Cempa”, explica.

Segundo o pesquisador do INPE e colaborador do CEMPA, Saulo Freitas, o Centro vem se estruturando há quase um ano para a montagem desse primeiro sistema de previsão de tempo para Goiás. Para isso, inicialmente, teve o aporte de R$500mil de uma emenda parlamentar para aquisição da primeira parte de um equipamento de computador (cluster) de processamento de alto desempenho. Ainda, o Cempa conta com a parceria da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg), que num primeiro momento ofertou bolsas de nível pesquisador doutor por meio de outros dois centros: Centro de Excelência em Inteligência Artificial (Ceia) e Centro de Excelência em Agro Exponencial (Ceagre). Ao todo, a Fapeg vai investir o valor de R$5,5 milhões durante cinco anos.

Para o presidente da Fundação, Robson Vieira, ter uma parceria como esta é de extrema importância para o desenvolvimento do estado de Goiás. “O Cempa Cerrado vai contribuir para diversas áreas do estado que dependem de uma previsão do tempo mais detalhada, como por exemplo, a agropecuária, que vai ter mais produtividade, além de impactar na economia dessa atividade. Sem dúvidas, é um centro que tem muito a contribuir para Goiás e é um orgulho fazer parte disso”. Robson lembra que a Fundação também investiu em outros centros no estado de Goiás como o Ceia e o Ceagre, e recentemente no Centro de Excelência em Bioinsumos (Cebio).

O professor Laerte ressalta que esta parceria tem um papel fundamental e estruturante. “Antes de mais nada, o Cempa Cerrado é um projeto do estado de Goiás para o estado de Goiás. Assim, a Fapeg tem tido um protagonismo na criação do Cempa desde o primeiro momento, aportando, além do imprescindível recurso financeiro, o apoio e a confiança do Governo do Estado de Goiás. Igualmente importante, a Fundação também tem sido protagonista quanto à concepção do Cempa como um centro de excelência, bem como tem contribuído na interlocução do Cempa com outros órgãos de governo e vários outros projetos de excelência também apoiados pela Fapeg”, afirma.

Contribuições

O Centro de Estudos, Monitoramento e Previsão Ambientais do Cerrado (Cempa Cerrado) congrega esforços multidisciplinares e multi-institucionais como academia, centros de pesquisa, setores governamentais, iniciativa privada, entre outros, buscando soluções para o desenvolvimento sustentável do estado de Goiás. Segundo o professor Laerte, além da agropecuária, que poderá se apoiar em estimativas mais precisas e detalhadas de temperatura, precipitação e água disponível no solo, os serviços oferecidos pelo Centro vão auxiliar outros diversos setores produtivos.

“Outras aplicações incluem o setor energético, no que diz respeito a projeções e estudos do potencial hidroelétrico, eólico e de energia solar; o setor da saúde pública, principalmente em relação as determinações mais finas e dinâmicas da poluição atmosférica e a previsão de tempo severo, com vistas a subsidiar, em tempo hábil, as ações da defesa civil quanto ao enfrentamento de desastres naturais e eventos extremos”, explica Laerte.

Próximas ações

As próximas ações estão concentradas na região metropolitana de Goiânia, quando será realizada uma resolução espacial inédita entre 1 e 2 quilômetros com previsão integrada de tempo e qualidade do ar. De acordo com o pesquisador Saulo, além do detalhamento, a previsão da qualidade de ar estará associada às emissões urbanas e de queimadas simultaneamente com a previsão de chuvas intensas, ondas de calor e outros parâmetros.

Para o professor Laerte, os resultados obtidos até o momento no âmbito do Cempa Cerrado são muito empolgantes do ponto de vista técnico-científico e corroboram todo o potencial deste centro para efetivamente contribuir com o desenvolvimento sustentável do Estado de Goiás. “Contudo, os resultados já disponíveis na nossa página em construção: https://cempa.ufg.br são, de fato, provas-de-conceito. Assim, o grande desafio de curto prazo é dotar o Cempa de uma estrutura de funcionamento operacional. Da mesma forma, precisamos avançar nas parcerias institucionais”.

Neste sentido, ele informa que no início de abril foi realizada uma reunião com uma delegação do INPE para avançar na formalização de um acordo de cooperação técnica entre a UFG e o INPE. Da mesma forma, está em andamento uma parceria com o Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (CIMEHGO), vinculado à Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMAD).