Novo Cangaço: Goiás fecha fronteira para criminosos especializados na modalidade
Veículos blindados. Criminosos fortemente armados. Cidades inteiras sob domínio de grupos especializados em assaltos violentos a instituição financeiras. Moradores sendo feitos como escudo humano. Cenário de verdadeiro terror que envolve toda população da cidade que é alvo da ação. Essas são as principais características da modalidade criminosa conhecida como Novo Cangaço, que desde 2019 não acontece no estado de Goiás.
Um levantamento feito pelo portal de notícias UOL mostra que, enquanto as fronteiras goianas estão fechadas para essa modalidade criminosa, estados vizinhos foram alvo dessas ações que estão cada vez mais violentas. Segundo o estudo, esse “domínio de cidades” é um crime tipicamente brasileiro, liderado por organizações criminosas, e vem ganhando destaque pelo planejamento e aumento da violência.
O resultado positivo de combate a essa natureza criminosa em Goiás pode ser atribuído aos avanços nas ações de inteligência, especialização das forças policiais e o trabalho integrado entre os agentes de segurança pública. Por vezes, durante a atual gestão do Governo de Goiás, tentativas de roubo a banco foram frustradas, em razão da expertise adquirida pelos policiais goianos.
Em dezembro de 2021, por exemplo, uma ação da Polícia Militar de Goiás resultou na desarticulação de uma organização criminosa, suspeita de planejar roubar uma agência bancária em Nova Crixás, região norte do estado. O grupo foi localizado em uma chácara do município de Araçu, a 70 quilômetros de Goiânia. Ao todo, oito indivíduos foram identificados. Eles estavam portando 10 armas de fogo, duas emulsões explosivas e três rádios comunicadores. Informações das equipes de inteligência da corporação apontaram que a quadrilha, oriunda de São Paulo, praticaria a modalidade criminosa “Novo Cangaço”.
Numa outra ação realizada em 2020, policiais militares do Batalhão de Operações Especiais (Bope), agentes do G.T.3 e Grupo Anti Roubos a Bancos (GAB/Deic), impediram o roubo à caixa eletrônico e a um banco na cidade de Crixás, no noroeste goiano. Os cinco suspeitos de integrarem a quadrilha responsável pelo crime trocaram tiros com os policiais civis e militares, que revidaram em legítima defesa. Com o grupo, que já vinha sendo investigado, os policiais apreenderam quatro armas de fogo, ferramentas usadas em arrombamentos e explosivos, objetos considerados como armamentos pesados.
Ataques recentes a outros Estados
Ataques recentes mostram que as ações estão mais planejadas e violentas, de acordo com as autoridades. Na madrugada de 30 de agosto de 2021, criminosos espalharam mais de 90 explosivos de alta tecnologia em Araçatuba (SP), fizeram moradores reféns e ainda usaram drones para monitorar a ação.
Foi a maior quantidade de detonadores instalados em uma ação na história do país, segundo estudo elaborado pela Associação Mato-Grossense para o Fomento e Desenvolvimento da Segurança. O ataque foi apontado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública como o mais violento dos últimos dois anos no estado de São Paulo.
A ocorrência mais recente aconteceu no Paraná. Entre a noite de 17 de abril e a madrugada do dia 18, uma quadrilha com fuzis, sete veículos blindados e explosivos invadiu Guarapuava (PR), a 250 km de Curitiba. O grupo, que tinha como alvo uma transportadora de valores, atacou o batalhão da Polícia Militar. O cabo da PM, que estava dentro de uma viatura de saída da unidade, morreu ao ser atingido por um tiro na cabeça.
Os ataques ao batalhão e à transportadora de valores foram simultâneos, segundo a polícia. A rodovia que dá acesso à cidade foi interditada pela quadrilha, que incendiou dois caminhões no local. Mas os criminosos deixaram a cidade sem levar nada.
Operação simulada
Com o objetivo de especializar ainda mais a tropa para o combate à modalidade criminosa, a Polícia Militar de Goiás realizou, na madrugada desta terça-feira (03/04), um simulado de ataque a uma empresa de transporte de valores, em Goiânia. O treinamento ocorreu na Avenida São Francisco, no setor Santa Genoveva. A ação envolveu mais de 200 policiais.
“A nossa intenção é, primeiro, salvar a vida do cidadão de bem, resguardando a sua integridade física, resguardar a vida do nosso policial militar e demonstrar, por meio do nosso treinamento, que nós temos sim, capacidade para intervir com sucesso em situações tão complexas como é o domínio de cidades”, destacou o Coronel Durvalino Câmara Júnior, comandante do Policiamento da Capital.
Durante a simulação, policiais se passaram por criminosos, utilizando máscaras e portando fuzis. Os supostos integrantes de organizações criminosas efetuaram disparos com munições e também explosões de festim. As principais vias da região foram bloqueadas para garantir a segurança dos motoristas e moradores. Ao final, as equipes policiais conseguiram neutralizar a ação dos “criminosos”.
O treinamento durou aproximadamente uma hora e atraiu, inclusive, admiradores da segurança pública, como é o caso da Daiane Stefani. A dona de casa saiu do Setor Jardim Novo Mundo, onde mora, para acompanhar de perto o treinamento policial. “A gente fica até emocionado de ver o tanto que eles se esforçam pela população. Vivem arriscando a vida deles constantemente”, pontuou.