Projeto CUIDA Chagas, sobre doença crônica, tem início em Paraúna

Em Paraúna, o estudo busca avaliar mais de 3 mil participantes, tendo como foco mulheres em idade fértil (10 a 49 anos), seus filhos(as) e contatos domiciliares (Foto: divulgação)

O Projeto CUIDA Chagas “Comunidades Unidas para Inovação, Desenvolvimento e Atenção para a doença de Chagas” inaugurou, no mês de setembro, suas atividades de estudo de implementação no município de Paraúna, localizado a 160 quilômetros de Goiânia. O CUIDA Chagas tem como objetivo principal contribuir para a eliminação da transmissão vertical (durante a gravidez ou parto) da doença de Chagas.

A pesquisa é uma iniciativa internacional financiada pela Unitaid, cofinanciada pelo Ministério de Saúde do Brasil e liderada pelo Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e tem apoio da Secretaria de Estado de Saúde.

No município de Paraúna, o estudo busca avaliar mais de 3 mil participantes, tendo como foco mulheres em idade fértil (10 a 49 anos), seus filhos(as) e contatos domiciliares. Em nível nacional, serão avaliados mais de 65 mil participantes em mais de 55 estabelecimentos de saúde entre Unidades Básicas de Saúde (UBS) e maternidades de diversos municípios nas cinco macrorregiões.

O evento foi realizado no salão do CIAC – Assistência Social e contou com a presença de representantes da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO), da prefeitura de Paraúna, do Laboratório Central de Saúde Pública Dr. Giovanni Cysneiros (LACEN – GO), de pesquisadoras do Projeto CUIDA Chagas, de profissionais de saúde e de pessoas acometidas por essa doença.

CUIDA Chagas

O estudo de implementação é a base do Projeto CUIDA Chagas. A pesquisa trabalha junto aos gestores locais, profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS) e lideranças comunitárias com o objetivo de criar modelos eficazes e sustentáveis para melhorar o acesso ao diagnóstico, tratamento e cuidado para doença de Chagas crônica.

A cardiologista do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (Fiocruz) e investigadora do Projeto CUIDA Chagas no Brasil, Fernanda Sardinha, explica que o objetivo é construir e avaliar modelos de implementação de testar, tratar e cuidar da doença de Chagas para que possam ser replicados em mais países e contextos.

“No Brasil, o estudo de implementação desenvolve-se em cinco municípios, um em cada macrorregião do país. Além disso, também é realizado em outros três países da América Latina: Bolívia, Colômbia e Paraguai”, relata.

Em outubro o PSF I: Lindomar Lemes de Morais e o PSF II: Jeronymo de Moraes Sobrinho darão início à fase piloto da pesquisa de CUIDA Chagas no município de Paraúna, conforme dias e horários específicos. Mulheres em idade fértil (de 10 a 49 anos) poderão participar do estudo realizando um teste rápido para triagem da doença e seguir os procedimentos estabelecidos para a pesquisa.

Após a fase piloto, gradativamente, a possibilidade de participar da pesquisa de CUIDA Chagas estará disponível em todas Unidades Básicas de Saúde do município. 

Relevância

O projeto conta com o trabalho de equipes multidisciplinares em quatro países: Bolívia, Brasil, Colômbia e Paraguai. À frente da pesquisa, encontra-se Andréa Silvestre, cardiologista e pesquisadora do INI, e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

A médica ressalta que o CUIDA Chagas representa uma oportunidade ímpar para avançar no controle da doença de Chagas, assim como para melhorar a qualidade de vida das pessoas acometidas e das comunidades em risco.

“A abordagem é integral, articula pesquisa clínica e de inovação com ações de comunicação, engajamento comunitário, intervenções no mercado que possam garantir o acesso equitativo de medicamentos e outros insumos necessários para o controle da doença”, afirma Andréa Silvestre. 

Doença de Chagas

A doença de Chagas é uma doença tropical negligenciada que afeta principalmente populações vulneráveis da América Latina. Porém, sua abrangência é global, estando presente no mundo todo. Estima-se que de 6 a 8 milhões de pessoas são acometidas e mais de 75 milhões moram em áreas de risco, sendo que 1,12 milhão são mulheres em idade fértil.

Nas Américas, aproximadamente 12 mil pessoas morrem, cada ano, por causa dessa doença e entre 8 e 15 mil bebês se infectam pela transmissão vertical, aquela que pode acontecer durante a gravidez ou o parto. Sem tratamento, entre 30% e 40% dos afetados desenvolve sérias complicações de saúde, principalmente no coração e no sistema digestivo.

O diagnóstico, o tratamento e o cuidado integral da doença de Chagas trazem benefícios importantes, incluindo a prevenção da transmissão vertical, a grande possibilidade de cura em bebês e crianças e o controle e redução da progressão para formas avançadas da doença em adultos.

Todos os benefícios podem ser adquiridos, observando-se cada contexto epidemiológico, implementando protocolos adequados, promovendo a conscientização social e incentivando um maior investimento público e privado direcionado à doença de Chagas.

Para isso, mecanismos de articulação institucional, pesquisa científica e inovação tecnológica são fundamentais para melhorar a informação disponível sobre o impacto sócio-sanitário da doença, para viabilizar ações e políticas concretas a fim de garantir uma melhor vida às pessoas acometidas e promover a prevenção e o controle da doença.