Emater investiga mortalidade de jabuticabeiras em Hidrolândia

Técnicos visitam propriedades periodicamente para avaliar casos e orientar agricultores (Fotos: Emater-GO)

A mortalidade crescente de jabuticabeiras em Hidrolândia (GO), município reconhecido pela produção da fruta, acendeu um alerta entre produtores locais e motivou o início de uma ampla pesquisa coordenada pela Emater Goiás. O chamado Projeto Jabuticaba, iniciado em 2021 e atualmente em sua segunda fase, busca compreender as causas do problema e propor soluções de manejo para evitar perdas nos pomares da região.

Segundo a pesquisadora da Emater, Maurízia de Fátima Carneiro, a iniciativa teve origem em uma demanda dos próprios agricultores que, preocupados com o aumento das mortes em suas propriedades, procuraram apoio técnico do escritório local.

“Essa mortalidade já é observada há pelo menos 25 anos, mas com o crescimento da área cultivada e o aumento do número de pomares, a situação se tornou mais evidente e preocupante”, explica.

Diferentemente do que se imaginava inicialmente, a morte das jabuticabeiras não está relacionada exclusivamente à ação de fungos ou nematóides.

Após a coleta e análise de amostras de solo, raízes, troncos e folhas, realizadas com apoio de instituições parceiras como a Universidade Tecnológica do Paraná, foi constatado que esses organismos, embora presentes, ocorrem em quantidades pouco expressivas para causar a morte das plantas de forma isolada.

Emater investiga causas da mortalidade de jabuticabeiras em Hidrolândia
Diferentemente do que se imaginava no início das pesquisas, morte das jabuticabeiras não está relacionada exclusivamente à ação de fungos ou nematóides (Fotos: Emater-GO)

Estresse hídrico intenso

“O que verificamos é que o fator principal parece ser o estresse hídrico intenso, característico do bioma Cerrado, onde temos seis meses de seca. A jabuticabeira é originária da Mata Atlântica, uma região muito mais úmida. Essa discrepância climática afeta diretamente a fisiologia da planta”, explica Maurízia.

Um dos fenômenos observados é a cavitação, processo em que bolhas de ar se formam nos canais internos da planta, bloqueando o transporte de água e comprometendo sua sobrevivência.

A pesquisadora destaca que essa condição de vulnerabilidade facilita a ação de patógenos.

“É a combinação entre o estresse hídrico, fungos oportunistas, nematóides e até pragas que levam, ao longo dos anos, ao enfraquecimento e à morte da jabuticabeira”, completa.

Emater investiga causas da mortalidade de jabuticabeiras em Hidrolândia
78% das perdas ocorre em plantas adultas, com 22% dos casos afetando mudas mais novas (Fotos: Emater-GO)

Sintomas e impactos

Os primeiros sinais de comprometimento costumam surgir no topo da planta, com a seca de folhas, brotos e ramos, podendo ocorrer tanto em árvores adultas quanto jovens. Estudo realizado pela Emater identificou que 82% das propriedades em Hidrolândia já registraram casos de morte de jabuticabeiras.

A maioria (78%) das perdas ocorre em plantas adultas, com 22% dos casos afetando mudas mais novas. Apesar do índice ainda não ser considerado alarmante, o impacto é expressivo, já que a jabuticabeira leva de 10 a 15 anos para iniciar a produção de frutos.

“Quando uma planta morre, o produtor precisa substituí-la, e essa reposição pode levar mais de uma década para voltar a produzir. É uma perda de longo prazo”, observa Maurízia.

O levantamento aponta que apenas 29% dos produtores fazem reposição das plantas perdidas, geralmente em áreas diferentes daquelas afetadas, como medida preventiva.

Em uma das propriedades monitoradas, a chácara do produtor José Vieira, a situação se agravou nos últimos dois anos, com perdas bem acima do habitual. A renovação anual de cerca de 30 pés por questões naturais de envelhecimento deu lugar a cortes emergenciais, em número crescente.

“A gente sempre faz a renovação do pomar, tirando uns 30 pés por ano. Mas agora aumentou demais. Só este ano já cortamos mais de 50, e ainda tem planta para tirar. Começa a secar lá de cima, nos ramos da copa, e a árvore vai enfraquecendo até morrer. Tem jabuticabeira aqui com mais de 40 anos. É muito triste ver isso acontecendo tão rápido, em menos de um ano”, relatou o produtor.

Além do monitoramento e levantamento de dados em campo, a Emater realiza um mapeamento das propriedades afetadas e orienta os produtores sobre os cuidados sanitários necessários durante a retirada das árvores, para evitar a possível disseminação da praga.

Emater investiga causas da mortalidade de jabuticabeiras em Hidrolândia
Estudos apontam que fator principal das mortes das plantas parece ser o estresse hídrico intenso, característico do bioma Cerrado, em decorrência dos prolongados períodos de seca nesta região (Fotos: Emater-GO)

Mapeamento e recomendações técnicas

A Emater Goiás, em parceria com a Secretaria de Turismo e Agricultura de Hidrolândia, realiza o monitoramento contínuo da situação nos pomares e mantém canais abertos com os produtores para receber informações sobre novas ocorrências. Técnicos visitam periodicamente as propriedades para avaliar os casos e orientar os agricultores.

Além disso, o novo ciclo do Projeto Jabuticaba, iniciado em 2024, contempla 12 frentes de trabalho voltadas à mitigação da mortalidade e à melhoria do manejo das jabuticabeiras. Entre as ações estão:

  • levantamento de pragas,
  • estudos sobre estresse hídrico,
  • análise microbiológica dos solos,
  • caracterização morfológica das espécies cultivadas,
  • produção de mudas em laboratório e viveiro,
  • desenvolvimento de um modelo climático que ajude a prever as melhores condições para o cultivo da fruta na região.

A pesquisa conta com a participação de diversas instituições parceiras, como o Instituto Federal Goiano (campus Hidrolândia e Morrinhos), a Unidade Universitária de Palmeiras de Goiás (UEG – Campus Oeste), a Universidade Federal de Goiás (UFG), o Instituto de Meteorologia (Imet) e a Prefeitura de Hidrolândia.

Como medida preventiva, a Emater Goiás e os parceiros orientam os produtores a realizarem, antes de novos plantios, análises químicas, físicas e microbiológicas do solo para garantir condições adequadas de cultivo.

“Também recomendamos evitar o replantio imediato no mesmo local onde houve morte da planta, a menos que os exames confirmem níveis seguros de fungos e nematóides”, afirma Maurízia.

O trabalho da Emater Goiás em Hidrolândia é um exemplo de como a escuta ativa das demandas do campo, aliada à ciência e à articulação institucional, pode gerar conhecimento técnico aplicado e contribuir com a sustentabilidade da produção agrícola regional.

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