Parceria entre Capes e Fapeg na UFG fortalecem o agronegócio ambientalmente sustentável

Os programas vão atuar em ações de pesquisa e inovação interdisciplinares com impacto positivo nas dimensões econômica, social, ambiental, científica e tecnológica do agronegócio (Foto: Wenderson Araujo)

O Estado de Goiás está inserido no protagonismo do Centro-Oeste brasileiro no que se refere ao agronegócio. O Estado vem se preparando para enfrentar um dos grandes desafios atuais: atender à crescente demanda mundial por alimentos por meio de um sistema agrícola ambientalmente sustentável. A projeção é de que a população mundial salte dos atuais 7,8 bilhões para 9,8 bilhões de pessoas até 2050. Estima-se que 95% do aumento da produção mundial de alimentos terá que vir de ganhos de produtividade, o que exigirá pesquisas e inovações que levem à transformação digital no campo e ao desenvolvimento de novas tecnologias e métodos que garantam produtividade sem aumentar a área plantada, a produzir mais com menos recursos, garantindo eficiência técnica que preserve a qualidade de vida.

É preciso potencializar a produção no cerrado goiano para ganhos em produtividade de grãos, fibras, carnes e derivados promovendo a revolução dos dados e a democratização no campo e, assim, novos produtos, oriundos de pesquisas, de maior valor agregado possam ser gerados e contabilizados no PIB goiano. Investir no conhecimento científico, em pesquisas feitas nas universidades, é uma das principais formas de trabalhar para este protagonismo.

Os Programas de Pós-Graduação (PPG) stricto sensu da Universidade Federal de Goiás (UFG) vinculados às Ciências Agrárias têm uma grande visibilidade e foram selecionados, assim como programas de outras instituições de ensino superior em Goiás, na parceria Capes/Fapeg para a execução do Programa de Desenvolvimento da Pós-Graduação (PDPG) por meio do edital nº 18/2020. O edital tem como objetivo formar parcerias com Fundações de Amparo à Pesquisa para financiar bolsas de mestrado, doutorado e pós-doutorado visando ao fortalecimento dos Programas de Pós-Graduação stricto sensu emergentes e em consolidação em áreas que sejam estratégicas para o desenvolvimento dos estados. A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg) obteve a aprovação das suas quatro propostas (limite máximo) submetidas ao Edital, sendo duas da Universidade Federal de Goiás (UFG), uma da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás) e uma do Instituto Federal Goiano (IF Goiano).

Propostas

As duas propostas da UFG envolvem dez PPGs da instituição, sendo seis de programas em consolidação do Sistema de Pós-Graduação em apoio ao fortalecimento ambientalmente sustentável das várias cadeias do agronegócio no Estado de Goiás, e quatro para os programas de pós-graduação emergentes em apoio à pecuária competitiva e ambientalmente sustentável. Os programas vão atuar em ações de pesquisa e inovação interdisciplinares com impacto positivo nas dimensões econômica, social, ambiental, científica e tecnológica pelo desenvolvimento de novos procedimentos, novos produtos, protocolos e estratégias.

Ao todo, as duas propostas da UFG vão receber 20 bolsas de mestrado, 20 de doutorado e seis de pós-doutorado. Parte das bolsas começa a ser implementada a partir do mês de abril e outra, no início de agosto. As bolsas de mestrado são no valor de R$ 1.500,00 com duração de 24 meses; as de doutorado, R$ 2.200,00 com duração de 36 meses; e bolsas de pós-doutorado no valor de R$ 4.100 com duração de 12 meses. A contrapartida financeira a ser disponibilizada pela Fapeg será de aproximadamente R$ 800 mil para o custeio das atividades de pesquisa como insumos para laboratório, atividades de campo, apresentação de trabalhos em conferências científicas.

As pesquisas serão desenvolvidas em busca da concretização da transformação digital, da incorporação das tecnologias habilitadoras (biotecnologias, inteligência artificial e internet das coisas) e de conceitos de produção sustentável na produção animal e vegetal. Os bolsistas vão atuar nas propostas que buscam a agricultura de precisão, a engenharia de alimentos, a logística, a produtividade e a sustentabilidade das cadeias de produção agropecuária do Estado,  o desenvolvimento de indicadores de tecnificação e empreendedorismo; de modelos econométricos para estimar retorno econômico em diferentes cenários de investimento, além de análises sobre as políticas públicas de fomento à inovação em Ciência e Tecnologia para o setor agropecuário, fundamentais para o desenvolvimento do Estado de Goiás.

Compromisso com entrega

“PDPG vai gerar uma sinergia capaz de promover a criatividade entre os programas de pós-graduação,” diz Laerte Guimarães Ferreira Júnior

“Eu acredito muito nesse modelo de financiamento da pós-graduação em que somos financiados mediante um projeto em que justificamos e demonstramos a necessidade dessas bolsas, mas que também nos comprometemos com entregas. Acredito nesse modelo de distribuição de bolsas para os programas atrelada a um projeto de pesquisa bem articulado”, destacou o pró-reitor de Pós-graduação, Laerte Guimarães Ferreira Júnior.

“A Capes cumpriu o compromisso feito no ano passado de apoiar esses programas emergentes e em consolidação e ao mesmo tempo veio com uma inovação, de fato original e criativa ao atrelar o apoio a esses programas a um projeto de pesquisa que seja importante para o Estado de Goiás”, comentou o pró-reitor. Segundo ele, “a Fapeg também marcou um gol de placa na condução desses projetos. A direção da Fapeg tem feito uma gestão exemplar e de muito êxito, apesar dos tempos duros e das restrições orçamentárias. A parceria da Fapeg com a UFG tem sido muito transparente, de muito diálogo e a Fundação foi fundamental para que os projetos que foram submetidos não só pela UFG, mas também pela PUC Goiás e o IF Goiano tivessem sucesso”, ressalta Laerte Ferreira Júnior. Para ele, parte do sucesso pode ser atribuída a cada universidade, cada pró-reitoria e aos respectivos programas de pós-graduação, “mas uma parcela importante dessa empreitada se deve ao empenho da Fapeg de organizar uma proposta competitiva”, ressaltou.

Importância das bolsas

“Estas bolsas estão sendo destinadas a novos alunos que estão ingressando e sem vínculos empregatícios. Isso mostra que elas atendem também ao quesito demanda social. Estamos procurando aliar ao componente demanda social, o mérito acadêmico”, explicou o pró-reitor.

“É muito importante que uma pós-graduação caminhe na direção de ser cada vez mais interdisciplinar e integrada. No PDPG, as bolsas nos permitem buscar uma integração maior entre os programas que vão trabalhar, de uma forma ou de outra, em um maior ou menor grau, de uma maneira articulada e com o mesmo objetivo. O PDPG vai gerar uma sinergia entre os programas de pós-graduação, e essa sinergia promove a criatividade e isso é extremamente estimulante. O PDPG tem um potencial gigantesco não só de entregar bolsas para programas, mas também de gerar resultados que venham ao encontro das demandas do Estado de Goiás. “

Cadeias do agronegócio

Uma das propostas da UFG aprovadas no edital visa à Consolidação do Sistema de Pós-Graduação da UFG em apoio ao fortalecimento, ambientalmente sustentável, do agronegócio no Estado de Goiás. Nela estarão envolvidos os Programas de Pós-Graduação: em Agronomia, Agronegócio, Genética e Melhoramento de Plantas, Ciência e Tecnologia de Alimentos, Direito Agrário e Ciência da Computação. Estes programas têm aderência com as seguintes áreas prioritárias: Tecnologias Habilitadoras (Biotecnologia, IA, IoT, Big Data), Tecnologias de Produção (Agronegócio, Logística e Indústria) e Tecnologias de Desenvolvimento Sustentável (Meio Ambiente e Energias Renováveis).

Além da formação de recursos humanos altamente qualificados, a expectativa com relação aos resultados técnicos, se pauta na geração de patentes, desenvolvimento de softwares, recomendação de novas variedades e cultivares, e publicação de notas técnicas explicitando metodologias, protocolos, estratégias e soluções. O projeto de pesquisa possibilita o desenvolvimento de tecnologias avançadas para o setor do agronegócio, como nas áreas de agricultura de precisão e logística da cadeia produtiva, as quais poderão, posteriormente, ser transformadas em produtos tecnológicos com alto valor agregado (ex. sistemas de software com registro baseados em estratégias de IA, IoT e big data).

O projeto tem o potencial de gerar impactos positivos em cinco dimensões principais: econômica, por meio de desenvolvimento de metodologias mais precisas, acessíveis, econômicas e eficientes, promovendo mais lucratividade para as várias cadeias relacionadas ao agronegócio (ex. ampliação do portfólio de empresas parceiras a partir do desenvolvimento de novos produtos alimentícios com maior qualidade nutricional e funcional; atração de investidores interessados no cultivo de espécies nativas do Cerrado, garantindo apoio a estes investidores quanto à seleção, à multiplicação e à disponibilização de materiais com melhor adaptabilidade às diferentes regiões com potencial produtivo), bem como estratégias de incentivo ao Fair Trade para o desenvolvimento de integradores da etnoeconomia ; social, por meio do aumento da eficiência das técnicas empregadas no agronegócio, o que irá ampliar as possibilidades de geração de renda pelos agricultores envolvidos, tanto na pequena propriedade quanto na agricultura empresarial, e auxiliar no fortalecimento da segurança alimentar de agricultores familiares; ainda, no âmbito social, é esperado o aumento dos índices de regularização fundiária rural e fortalecimento das comunidades tradicionais goianas e de seus processos e modos de produção da vida; ambiental, por meio do incentivo à conservação da biodiversidade, ao uso mais eficiente dos recursos naturais, aumentando a produção de alimentos e/ou produtividade por unidade de área; uso de bioprodutos para controle de doenças; aproveitamento de subprodutos; redução da pressão do extrativismo em populações naturais, promovendo a conservação, preservação e reintrodução de espécies ameaçadas de extinção; uso de estratégias mais eficientes para a análise dos processos de controle e monitoramento ambientais que envolvam questões relativas à propriedade rural.

O projeto tem ainda potencial de gerar impactos científicos, por meio da contribuição para o avanço em pesquisas envolvendo a ampliação do conhecimento sobre as potencialidades e limitações da produção agropecuária (ex. prospecção de áreas no estado de GO visando o desenvolvimento e a recomendação de cultivares com base em dados ambientais; estruturação de programas de melhoramento genético); e tecnológicos, por meio do desenvolvimento de novos procedimentos, novos produtos, protocolos e estratégias que visem garantir a produtividade e sustentabilidade das cadeias de produção agropecuária do estado de Goiás.

Pecuária competitiva

O projeto envolve quatro Programas de Pós-Graduação Emergentes da UFG: Zootecnia, Biodiversidade Animal, Administração (todos com conceito 4, nível mestrado e doutorado) e de Economia (conceito 3, nível mestrado). Seu objetivo geral é contribuir para a modernização tecnológica e conceitual da pecuária mediante pesquisas sobre os resultados da incorporação de novas tecnologias na nutrição e produção animal, incorporação de conceitos de uma “economia verde”, incluindo a avaliação de serviços ambientais que possam contribuir para o planejamento de paisagens sustentáveis, avaliação de seus impactos locais e regionais sobre a biodiversidade na busca de soluções para a sustentabilidade ambiental dessa atividade, desenvolvimento de indicadores de tecnificação e de empreendedorismo, além do desenvolvimento de modelos de ganhos em potencial, mediante variados graus de investimento.

A proposta reconhece como os ganhos ligados ao avanço da tecnologia contribuem para o avanço da competitividade dessa atividade, mas também assume que a capacidade de alcançar mercados internacionais está intimamente ligada à redução dos impactos sobre a biodiversidade que precisam ser medidos e ponderados na avaliação geral do significado dessa atividade econômica.

O projeto apresenta mecanismos integrados e inovadores de comunicação do conhecimento científico, buscando alcançar audiência internacional para a produção acadêmica de qualidade, ao mesmo tempo em que alcance os gestores públicos e produtores rurais com instrumentos e ferramentas tecnológicas de fácil acesso e uso imediato em suas atividades.