Pesquisa da UEG estuda cagaiteiras e gabirobeiras do Cerrado
Promover a conservação de cagaiteiras e gabirobeiras no Vale do São Patrício, em Goiás, e contribuir com a geração de renda de agricultores familiares e famílias assentadas na região são objetivos do projeto “Condefé tem cagaita e gabiroba no Cerrado”.
O projeto foi proposto por pesquisadores da Universidade Estadual de Goiás (UEG) na Chamada Pública 02/2023 – Produtos e Serviços da Natureza: Soluções para Fortalecer as Cadeias da Sociobiodiversidade, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg), em parceria com a Fundação Grupo Boticário.
A execução da proposta terá um custo total de R$ 150 mil. O estudo teve início em janeiro deste ano e vai até dezembro de 2025. Segundo a coordenadora do Laboratório de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação de Produtos da Biodiversidade da UEG e líder da proposta de solução, Joelma de Paula, cagaiteiras e gabirobeiras são frutíferas nativas do Cerrado, cujos frutos são apreciados para consumo in natura por terem sabor adocicado e bem peculiar.
“Em muitas regiões do Cerrado, essas espécies são impactadas por práticas de manejo de pastagem ainda muito utilizadas na agricultura familiar, como roçagem e queimadas”, revela.
Cagaiteiras e gabirobeiras
A pesquisadora diz que as polpas dos frutos dessas espécies já são exploradas especialmente por empresas regionais e nacionais para produção de picolés, sorvetes e doces.
“Por serem bastante perecíveis, especialmente a cagaita, há, porém, pouca comercialização dos frutos frescos, principalmente em feiras. Há grande potencial econômico em torno desses produtos nativos, já que podem ser encontradas até 160 plantas em um hectare e, embora frutifique em apenas dois meses do ano, uma cagaiteira pode produzir de 500 a 2.000 frutos”, salienta.
Segundo dados da Secretaria Municipal de Agricultura de Goianésia, no Vale do São Patrício, há assentamentos rurais, como Presente de Deus, com 138 famílias, e Itajá, com 18 famílias, que participam de cooperativas nessa região.
“Nossa solução visa engajar essas famílias como agentes de conservação de cagaiteiras e gabirobeiras no Vale do São Patrício e contribuir com a geração de renda delas, promovendo modelos de economia criativa e circular”, prevê.
O projeto, de acordo com Joelma, tem quatro vertentes principais interconectadas:
- diagnóstico e acompanhamento participativo, por meio de encontros e visitas in loco, com objetivo de trocar saberes, expectativas e necessidades entre as famílias beneficiárias e a equipe;
- estudos ecológicos e botânicos com o objetivo de identificar e demarcar as espécies na região, coletar as informações ecológicas;
- estudos de tecnologias pós-colheita para investigação das melhores maneiras de armazenagem e conservação dos frutos para comercialização e produção;
- estudos físico-químicos e de bioatividade dos frutos e seus resíduos.
A proposta prevê que os resultados dos estudos retornarão para as famílias por meio de encontros, rodas de conversas, capacitações, utilizando cartilhas e outros materiais produzidos ao longo do projeto.
“Espera-se, assim, estimular a visão socioambiental nas comunidades do Vale do São Patrício sobre a conservação e a preservação dessas e de outras espécies do cerrado e estimular a cadeia dos frutos da cagaita e da gabiroba”, diz a líder do projeto.
O projeto ainda pretende promover nas comunidades a economia criativa e circular, que viabilizará a sustentação financeira da proposta.
“Isso vai se dar por meio de educação botânica, ecológica, científica e financeira; valorização das lideranças locais para que sejam incentivadoras e multiplicadoras das famílias; desenvolvimento de um pacto local para construção de uma identidade coletiva, que ajudará na percepção do valor e qualidade dos produtos por empresas interessadas; e fortalecimento do cooperativismo já existente. Além disso, as famílias, por meio das cooperativas, poderão buscar fomentos juntos a entidades públicas e privadas”, salienta Joelma.
Equipe
A equipe, coordenada pela professora Joelma Abadia Marciano de Paula, é composta pelos professores André José de Campos, Cristiane Maria Ascari Morgado, Josana de Castro Peixoto, Leonardo Luiz Borges e Eliete Souza Santana, como docentes colaboradores; e os discentes de programas de pós-graduação da UEG Anielly Monteiro de Melo (Renac), Fernando Gomes Barbosa (Renac), Charles Lima Ribeiro (Ciências Moleculares), Marcio Júnior Pereira (Teccer), Leonardo Gomes Costa (Caps) e Monatha Nayara Guimarães Teófilo (Renac).
Em Goianésia, a equipe tem a colaboração de Manoel Henrique Reis de Oliveira.