Pesquisador da UEG participa do Projeto Cigarras do Brasil

Alguns resultados s já foram alcançados, como o aumento da área de distribuição da espécie Quesada sodalis que, estava restrita aos estados de São Paulo e Rio de Janeiro (Fotos: UEG)

A temporada do canto das cigarras, que coincide com a estação das flores, teve início há cerca de um mês e é sinônimo de alegria para o ser humano, os animais e as plantas. A cigarra é um inseto carismático que, por conta do som que emite, já foi retratada em inúmeros poemas e canções.

Esse inseto encantador está no radar de pesquisadores do Brasil e do exterior, que vêm estudando espécies diferentes e seus costumes por meio de um projeto que conta com a colaboração da sociedade. O Projeto Ciência Cidadã – Cigarras do Brasil é fruto de parceria entre pesquisadores da Universidade Estadual de Goiás (UEG) – UnU Iporá, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Universidade de Lisboa (Portugal).

O projeto começou em meados de 2020 e, desde então, recebeu a colaboração de centenas de pessoas. Alguns resultados relevantes já foram alcançados, como, por exemplo, o aumento da área de distribuição da espécie Quesada sodalis que, pela literatura científica, até então, estava restrita aos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. “Hoje, graças aos registros coletados pela população e compartilhados conosco, sabemos que ela tem uma distribuição muito mais ampla, ocorrendo também nos estados do Espírito Santo, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul”, destaca o professor Douglas Henrique Bottura Maccagnan, do curso de Ciências Biológicas da UnU Iporá.

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Segundo o professor, que fez mestrado e doutorado com foco nas cigarras e é o único do Estado de Goiás a estudar o inseto, a população, ao contribuir com a pesquisa, estará ajudando os pesquisadores a conhecerem as espécies de cigarras que ocorrem no País, sua distribuição pelos estados e biomas brasileiros e o período do ano em que o adulto de cada espécie ocorre. “Recomendamos ainda que essa seja também uma atividade familiar, em que adultos e crianças possam experimentar um pouco da rotina dos cientistas na coleta de informações em campo e juntos passarem por momentos agradáveis”, salienta o pesquisador.

Ocorrências

De acordo com o professor Douglas, há no Brasil o registro de ocorrência de cerca de 180 espécies de cigarras. Esse número, diz o professor, é subestimado, uma vez que novas espécies têm sido constantemente descritas. “Um exemplo disso são as espécies Guyalna nadae e Taphura maccagnani, que foram descritas poucos anos atrás a partir de exemplares coletados no estado de Goiás. De maneira geral, há um consenso entre os pesquisadores que no Brasil deva existir algo em torno de 500 espécies. Assim, temos ainda muito a descobrir”, prevê.

O Laboratório de Entomologia da UEG de Iporá, coordenado pelo professor Douglas Henrique, tem se dedicado ao estudo das cigarras. Lá existe uma coleção com mais de trinta espécies diferentes coletadas apenas no estado de Goiás.

O pesquisador diz que, pelas pesquisas realizadas, já é possível afirmar que algumas espécies são muito abundantes em áreas naturais e urbanas de todo o estado, a exemplo da Quesada gigas, da Fidicina toulgoeti e da Dorisiana noriegai. “Do outro lado temos espécies que são raras e só existem no Cerrado nativo, sendo o caso da linda espécie Hemisciera maculipennisexplica. No site laboratório de entomologia da UnU Iporá é possível ter acesso a imagens e sons de algumas dessas cigarras. 

Essas são algumas informações que a ciência já constatou sobre as cigarras. Mas os pesquisadores ainda sabem muito pouco sobre elas. O pesquisador Douglas diz que algumas perguntas básicas ainda estão em aberto. “Quantas espécies realmente ocorrem no Brasil? Qual a distribuição de cada espécie pelo território nacional? Como é o canto de cada uma delas?”, indaga.

A criação do “Projeto Ciência Cidadã – Cigarras do Brasil”, de acordo com Douglas, veio para responder a essas e outras perguntas. “Estamos solicitando ajuda dos cidadãos em geral para a coleta de informações sobre as cigarras. A pessoa pode participar tirando uma foto e/ou gravando o som de uma cigarra com o próprio celular e compartilhar conosco. A melhor forma de fazer esse compartilhamento é pela plataforma iNaturalistque foi desenvolvida justamente para esse tipo de comunicação. Também temos nossas redes sociais por onde é possível nos comunicarmos e onde sempre estamos postando informações sobre esses insetos encantadores”, ressalta.

Segundo o professor Douglas, em um ano de trabalho o projeto já conseguiu ampliar a distribuição de algumas espécies de cigarras no País. “Havia espécies que a gente tinha conhecimento que só ocorria em São Paulo, mas, com a ajuda das pessoas, conseguirmos identificá-las até na Bahia. Esse trabalho tem sido muito relevante”, destaca o pesquisador.

Curiosidades

Além das flores, o início da primavera é marcado pela presença de um som bem característico, o canto das cigarras. 

Ainda existem ditos populares que muitos já devem ter ouvido. “Quando a cigarra canta é por que vai chover”, “A cigarra estoura de tanto cantar”. O professor Douglas explica que ambos os ditos não condizem com a verdade. “O fato de você ouvir o canto da cigarra e chover no mesmo dia não tem correlação direta. Um dia típico de primavera ou verão, quando as cigarras são mais abundantes, tem alta probabilidade de ocorrer chuva. Logo, temos essa impressão. Nessa época do ano as cigarras vão cantar todos os dias, havendo chuva ou não. Sobre o outro dito, podemos afirmar que a casca que vemos presa ao tronco de árvores não é uma cigarra que estourou de tanto cantar, mas sim que se trata do exoesqueleto desse inseto que ficou para trás após a sua metamorfose para a forma adulta. Alguém já viu a cigarra cantando e, de repente, “bum!”, o bichinho se despedaça em uma explosão? Tenho absoluta certeza que não”, salienta.

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O pesquisador ensina que outro fato interessante é que apenas os machos das cigarras possuem órgão emissor de som. “Ele o faz com o intuito de atrair as fêmeas para a reprodução e cada espécie tem o som único e diferente das demais. Dessa forma, com um pouco de treino, é possível reconhecer a espécie apenas ouvindo seu canto”.

Gosta de cigarras? Quer ajudar os cientistas nas pesquisas sobre elas? Então participe do “Projeto de Ciência Cidadã – Cigarras do Brasil”. Acesse as redes sociais do projeto e saiba mais sobre esses insetos encantadores e como auxiliar do trabalho científico.

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O pesquisador

Douglas Henrique Bottura Maccagnan é docente do curso de Ciências Biológicas na Unidade da UEG de Iporá (Câmpus Oeste) e coordenador do Laboratório de Entomologia dessa Unidade. Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de São Carlos (2000); mestrado em Agronomia (concentração em Entomologia Agrícola) pela Unesp de Jaboticabal (2003); doutorado em Ciências (Concentração em Entomologia) pela USP de Ribeirão Preto (2008); e realizou estagio de pós-doutorado em comunicação vibracional de insetos na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (2015). Estuda as cigarras há cerca de 20 anos, divulgando seus resultados em artigos científicos e capítulos de livros.Tem experiência na área de Entomologia Geral, Biotremologia e Bioacústica, com ênfase em Cicadoidea, atuando principalmente nos seguintes temas: método alternativos de controle, ecologia, bioacústica e taxonomia das cigarras.