Rádio Brasil Central: da imaginação mediada pelo som até a convergência de mídias

Por Givaldo Corcino, historiador

O rádio foi uma revolução. Quando apareceu em Goiás em 1942 (19 anos depois das emissoras pioneiras no Rio de Janeiro e em Pernambuco), criou toda a sorte de interesse e apreço na população goiana, inicialmente em Anápolis, e aos poucos em diversas cidades do estado, como Ipameri, Buriti Alegre e Goiânia. Muito da mágica desse meio de comunicação está na capacidade de fazer essas vozes vagarem pelo espaço.

De Goiânia, comunicando com o mundo

O slogan, que pode parecer hiperbólico, é mostra da força com que a Brasil Central inicia sua história. Mais que um bom conjunto de artistas e jornalistas, foi por meio da equipe técnica e dos equipamentos que a rádio se notabilizou, chegando a ganhar o apelido de “a emissora dos doze transmissores”.

A Rádio Brasil Central surgiu em 1950. No dia 3 de março foi feita a inauguração da estação, ainda na Avenida Anhanguera. Ela fazia parte das organizações Coimbra Bueno e surgia com um objetivo bem demarcado: reforçar nome do seu fundador junto ao eleitorado goiano. Mas sua grande função nesses primeiros anos foi tornar-se uma das vozes na imprensa a favor da transferência da capital federal para planalto goiano.

A capacidade de difundir em grandes distâncias a sua programação já ficava marcada nos primeiros anos. Vários jornais goianos atestaram o recebimento de cartas apontando a captação do sinal da Brasil Central na Europa, Ásia e mesmo na Oceania (situação que perdura até a atualidade, facilitada pela internet).

Chamou atenção na época o uso pioneiro de transmissores de ondas curtas e também de transmissores de frequência modulada – o famoso FM – para a criação de links entre o estúdio da rádio e as equipes externas, 20 anos antes de se usar a frequência para transmissões comerciais. Ligava-se assim o estádio Serra Dourada ou o Palácio das Esmeraldas com os estúdios que na época ficavam na Vila Nova. E não apenas a qualidade dos equipamentos, mas também a capacidade técnica e inventiva das equipes de apoio e suporte que tal condição ainda mais patente.

Uma voz do Planalto Central

Na história da Rádio Brasil Central, os profissionais que estavam “no apoio” foram fundamentais para o sucesso que ainda hoje marca o nome da RBC na memória e nos corações não só de goianos, mas de toda uma população instalada nos mais diversos estados do país. E essa audiência se consolidou com o papel da rádio em diversas campanhas que tiveram grande mobilização social, como a que pedia a mudança da capital federal e, posteriormente, o acompanhamento da construção de Brasília.

A Brasil Central enviou equipes para encarar o canteiro de obras que se transformou o cerrado e transmitir diretamente do local a primeira missa celebrada na futura capital. E mais uma vez a capacidade técnica desponta: os equipamentos da Agência Nacional – responsável pela comunicação do governo federal a época – não funcionaram, sendo os da Brasil Central que transmitiram a primeira missa em Brasília nacionalmente.

Nos anos 1960, a rádio foi adquirida pelo governo estadual e continuou a ser uma voz forte nos céus do Brasil. Num período conturbado politicamente, a rádio se juntou a Rádio Guaíba de Porto Alegre e diversas outras rádios do país na chamada “Cadeia da Legalidade”, levando uma mensagem anti-golpe militar e de manutenção democrática quando da posse de João Goulart, em 1961.

Nem só de política vive a rádio

A Brasil Central sempre teve como marca a qualidade dos programas jornalísticos. Desde os primeiros dias, foi o noticiário que trouxe distinção a rádio. Numa defesa significativa da liberdade de expressão, o rádio jornal “O Mundo em sua Casa” noticiou eventos e trouxe opiniões embasadas e seguras para o ouvinte. Aos amantes dos esportes, ofereceram diversos momentos de vibração por meio das equipes que acompanharam desde os campeonatos de basquete goiano até a copa do mundo de futebol.

Mas as equipes não só acompanhavam eventos oficiais de governo e grandes acontecimentos. Elas também possibilitavam que eles acontecessem. Muitas etapas de campeonatos de motocross, festas regionais e inclusive a visita do Papa João Paulo II à Goiânia, em 1991, foram sonorizadas por equipes da Brasil Central, fazendo que a voz e os sons desses eventos chegassem ao público não só por meio das ondas do rádio, mas também para quem assistia presencialmente, por meio das técnicas e das “improvisações” aprendidas durante a lida radiofônica.

Novos tempos chegam A Brasil Central está fazendo aniversário, chegando aos 71 anos, e se alinha aos novos tempos e desafios apresentados pelas transformações tecnológicas, como é a tradição do próprio rádio como mídia e como técnica. Vem sendo marcante, como presente para os ouvintes, a convergência das várias mídias da ABC, a agência que administra não só as rádios, mas também a Televisão Brasil Central, o Diário Oficial e os canais de comunicação digital, gerando uma experiência mais completa do ouvinte da Brasil Central, que agora também pode ler e assistir seus programas favoritos e mergulhar em toda a complexidade daquilo que está presente no cotidiano difundido pelas ondas do rádio.