Rede pública estadual de ensino de Goiás atende mais de 200 estudantes indígenas

Na escola regular, o indígena é acompanhado por um profissional intérprete, que traduz a Língua Portuguesa para a língua materna do aluno e o auxilia na compreensão dos conteúdos em sala de aula

Maria Helena é Xavante, tem 19 anos e nasceu na aldeia Nossa Senhora das Graças, em Mato Grosso. Após concluir o Ensino Fundamental na cidade de Barra do Garças, no mesmo estado, ela veio com seus pais para Aragarças, em Goiás, para cursar o Ensino Médio no Centro de Ensino em Período Integral (Cepi) Dr. Rubens Corrêa Aguirre.

Durante o Ensino Médio, ela conta que teve bons colegas, inclusive outros indígenas, e foi muito bem recebida pela turma em geral. No ano passado, com a pandemia e a suspensão das aulas presenciais, ela sentiu dificuldades, mas continuou estudando. Seu pai contratou o serviço de Internet em sua casa e ela pôde participar das aulas diárias ao vivo e conversar com os professores da escola.

Agora, Maria Helena está matriculada no curso de Nutrição, no Centro Universitário do Vale do Araguaia (Univar) para uma nova etapa de sua vida acadêmica: o ensino superior. “Eu sempre sonhava com esse curso para eu obter conhecimento e trazer comida bem qualificada para meus povos”, afirmou a estudante.

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Maria Helena e sua colega de turma

Rede estadual atende 218 estudantes indígenas

Na mesma jornada que Maria Helena, há outros 218 estudantes indígenas atendidos pela rede pública estadual de ensino em Goiás. Cerca de metade desses alunos estuda em escolas indígenas, localizadas nas aldeias e com currículos adaptados para a cultura da comunidade local. A outra metade estuda em escolas regulares de centros urbanos, como Aragarças, Goiânia, Itumbiara e cidade de Goiás, onde residem temporariamente para estudar ou para acompanhar os pais em uma oportunidade de trabalho.
 
Na escola regular, o indígena é acompanhado por um profissional intérprete, que traduz a Língua Portuguesa para a língua materna do aluno e o auxilia na compreensão dos conteúdos em sala de aula. Isso porque a linguagem é a maior dificuldade que o aluno encontra quando chega na cidade. Esse acompanhamento é importante não apenas para o aprendizado, mas também para a inclusão social.
 
Já nas escolas indígenas, o estudante possui professores que residem nas próprias aldeias e participam de aulas bilíngues ou até trilíngues, com o uso de línguas maternas e da Língua Portuguesa. O currículo dessas unidades contém disciplinas semelhantes às de outras escolas, da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), e também disciplinas diferenciadas, baseadas na cultura do povo indígena.

O currículo de cada uma das três escolas indígenas de Goiás foi formulado em conjunto pela Secretaria de Estado da Educação (Seduc), pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e pelos professores das escolas.

As escolas indígenas de Goiás são:

– Colégio Estadual Indígena Maurehi, em Aruanã (povo Karajá/Iny);
– Escola Estadual Indígena Aldeia Avá-Canoeiro (povo Avá Canoeiro);
– Escola Estadual Indígena Cacique José Borges, em Rubiataba (povo Tapuaia);

Escola Estadual Indígena Cacique José Borges, da Aldeia Carretão em Rubiataba

Características da Educação Indígena segundo a LDB

Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), os povos indígenas têm direito a uma Educação bilíngue, diferenciada, específica e intercultural. Ou seja, a Educação Indígena segue conteúdos didáticos, currículos e programas diferenciados que se adequam à realidade das comunidades.  

O fortalecimento das práticas culturais e da língua materna de cada comunidade é um dos objetivos da Educação Indígena. Além disso, ela deve reafirmar as identidades étnicas e dar acesso a conhecimentos técnicos e científicos.

Educação indígena e aulas remotas

Com a suspensão das aulas presenciais devido à pandemia da Covid-19, as escolas indígenas tiveram de continuar o ano letivo com aulas remotas. Todas as aldeias com escolas indígenas de Goiás possuem acesso à Internet. Por isso, os professores e estudantes continuaram se comunicando e compartilhando conteúdos didáticos por WhatsApp e redes sociais.

Nas escolas regulares, o atendimento por profissionais intérpretes também se tornou remoto, com ajuda de plataformas digitais. Essa relação entre aluno e intérprete, segundo a gerente de Educação do Campo, Indígena e Quilombola da Seduc, Valéria Cavalcante, foi um dos fatores que garantiram a inexistência de evasão escolar de estudantes indígenas entre 2020 e 2021.

“Esse acompanhamento do profissional intérprete não é só na língua, com a oralidade, leitura, escrita e atividades de numeramento. Mas é a inclusão deste estudante em uma tentativa de construir as perspectivas de interculturalidade de saberes”, afirmou a gerente Valéria. “Apesar das dificuldades, o trabalho tem acontecido e o processo de ensino-aprendizagem tem avançado”, diz a gerente.