Crer faz alerta para risco de lesão medular devido a mergulho em águas rasas
O número de ocorrências causadas por mergulho em águas rasas aumenta, com a chegada das férias escolares. Segundo a Sociedade Brasileira de Coluna (SBC) e o Ministério da Saúde, nesta época do ano, acidentes como esses passam da quarta para a segunda principal causa de lesão medular no país, atrás apenas dos acidentes de trânsito.
O médico fisiatra do Centro Estadual de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo (Crer), Rodrigo Parente Medeiros, destaca que esse tipo de lesão é recorrente e, muitas vezes, tem consequências graves.
“Ao mergulharmos em um local com água rasa, seja piscina, rio, cachoeira ou mesmo no mar, podemos sofrer traumatismo craniano ou uma lesão grave na coluna por uma pedra ou um banco de areia que não conseguimos identificar antes do mergulho”, explica.
De acordo com o médico, a maior parte das vítimas desse tipo de acidente é jovem e sofreu a lesão durante atividades recreativas.
“Quando o mergulho acontece onde a pessoa não tem familiaridade, há mais riscos dela se acidentar, muitas vezes devido ao ambiente mal iluminado ou mesmo com águas turvas. Em Goiás, além das piscinas, nós temos muitas cachoeiras, que também são locais que acontecem muitos desses acidentes”, explica Rodrigo.
Ele afirma que o impacto da queda pode trazer sequelas graves e até mesmo a morte.
“Entre as principais consequências estão a tetraplegia e paraplegia, além de alterações neurológicas, perda de sensibilidade, fraturas, traumatismos, perda de força muscular e afetar a mobilidade.”
Segundo o especialista, em casos de acidentes é importante evitar testar os movimentos do acidentado, levantá-lo ou colocá-lo sentado, pois uma manipulação realizada de forma incorreta pode piorar a lesão.
“A vítima deve ser salva e levada para fora da água para prevenir o afogamento, oferecendo o máximo de sustentação para a coluna, evitando mexer ou flexionar pescoço e tronco ou girar a pessoa. A vítima deve ficar em uma superfície plana e não ser mais movimentada. O Corpo de Bombeiros (193) ou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, o Samu (192), devem ser acionados para socorro com equipe médica especializada em emergências.”
O médico reforça que somente profissionais habilitados poderão fazer essa remoção do acidentado do local, uma vez que é indispensável o uso de pranchas ou macas rígidas, além de colar cervical.
Reabilitação por lesão devido a mergulho em águas rasas
A educadora física do Crer, Adriana Alves Teixeira, que acompanha a reabilitação de pacientes com lesão medular na unidade de saúde do Governo de Goiás, explica que os pacientes chegam ao Crer pela internação via regulação da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO).
“Esse paciente é avaliado e, sendo liberado pela equipe médica, já inicia o processo de reabilitação com equipe multidisciplinar. Após a alta da internação, o paciente passa por uma avaliação global de lesão medular para verificar suas necessidades individuais e é encaminhado para o ambulatório”, explica.
Adriana pontua que, para esse tipo de lesão, é ofertado, inicialmente, fisioterapia neurológica e terapia ocupacional.
“Seguindo o processo de reabilitação, esse paciente é encaminhado para o Agir + Saúde, no qual é avaliado e, de acordo com a sequela, ele pode ser inserido na academia e nas modalidades paradesportivas ofertadas, como bocha, takkyu volley, natação e basquete em cadeira de rodas, já visando ao processo de readaptação e reinserção desse paciente na sociedade”, finaliza.
Toni César Viana Lopes, 34 anos, já enfrentou a recuperação de dois acidentes que causaram lesão em sua medula. O primeiro aconteceu em 2008, durante um banho de lago em Aparecida de Goiânia. O segundo aconteceu dez anos depois, em um lago no setor Jaó, em Goiânia.
“No primeiro acidente, eu fraturei a cervical e cheguei a quebrar o pescoço, mas não rompeu a medula. Aqui no Crer, fiquei mais ou menos dois anos fazendo fisioterapia, fui readaptado e voltei para o mercado de trabalho. Depois do segundo acidente, eu já estava com a coluna mais debilitada, e estou em tratamento há quatro anos fazendo terapias”.
Toni conta que já teve uma grande evolução, deixando para trás a cadeira de rodas, o andador e a bengala, e hoje já anda, mesmo com limitações, sem auxílio de apoios.
Em setembro de 2020, Leonardo Martins Pereira, 22 anos, sofreu uma lesão medular após acidentar-se em uma cachoeira no interior do Mato Grosso (MT). Ele conta que, após passar por duas cirurgias, em Rondonópolis, optou por vir para Goiânia em busca de atendimento por já conhecer o trabalho de referência do Crer.
“Foi muito rápido. Em outubro de 2020, mudei-me para Goiânia e, em dezembro, iniciei o tratamento de reabilitação aqui no Crer. No começo, eu tinha movimentos muito limitados, mas já evolui bastante. Aqui eu faço terapia ocupacional, fisioterapia convencional e na sala gamer. Estou muito feliz com os resultados”, conta.