A ciência e o espaço das mulheres, na UEG 41,6% são pesquisadoras

O desejo de encontrar respostas a muitas perguntas levou a professora Joelma Abadia Marciano de Paula a se interessar pela ciência. Ela atua nos programas de pós-graduação de Recursos Naturais do Cerrado e Ciências Aplicadas a Produtos para Saúde da Universidade Estadual de Goiás, orientando alunos de mestrado e doutorado

O desejo de encontrar respostas a muitas perguntas levou a professora Joelma Abadia Marciano de Paula a se interessar pela ciência. Sua curiosidade pelas plantas medicinais e seus usos nas diversas culturas e sociedades, aliada à vontade de contribuir para a geração de conhecimento científico e de informações consistentes sobre plantas e produtos naturais, fez dela uma pesquisadora.

Joelma atua nos programas de pós-graduação de Recursos Naturais do Cerrado e Ciências Aplicadas a Produtos para Saúde da Universidade Estadual de Goiás, orientando alunos de mestrado e doutorado. A professora também coordena o Laboratório de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação de Produtos da Biodiversidade, situado no Centro de Pesquisa e Pós-Graduação do Câmpus Central da UEG, em Anápolis, além de ministrar aulas no curso de graduação em Farmácia.

“Ser pesquisadora no Brasil é um enorme desafio. As dificuldades não são diferentes daquelas enfrentadas por todas as mulheres nos diferentes campos de atuação. Jornadas de trabalho que se estendem às demandas da maternidade e da vida familiar. Mas, com boas doses de gerenciamento do tempo e dedicação, conseguimos vencer”, destaca Joelma. “A ciência, além do impacto social, também nos proporciona formar novas gerações de pesquisadores, por meio das iniciações científicas e pós-graduações, outro aspecto que muito me encanta no fazer científico”, salienta. 

Para a professora Joelma, o incentivo para que as mulheres ingressem na ciência é mostrar a elas que todas podem. “Ser cientista não é uma atividade para uma ‘casta’ privilegiada ou dotada de atributos especiais. Homens e mulheres que reúnem atributos como curiosidade, sede de saber e dedicação ao estudo podem e devem fazer ciência”, destaca.

Assim como Joelma, a professora Aracele Pinheiro (foto), coordenadora do Câmpus Oeste da UEG, em São Luís de Montes Belos, também é uma pesquisadora. Mesmo tendo ingressado na universidade aos 16 anos, foi somente na especialização que ela começou a ter acesso à pesquisa. Ela também tem um sentimento parecido com o da professora Joelma no que se refere ao papel da mulher na ciência.

“Ser pesquisadora no Brasil é ainda muito difícil. Eu acho deficiente o apoio financeiro para alguns programas de mestrado, para algumas pesquisas, principalmente para os que estão iniciando, se consolidando. Já que a gente tem uma classe ‘menos desvalorizada’ em vários pontos, acho que devia haver políticas públicas direcionadas às mulheres”, diz.

Apesar disso, Aracele nunca teve dificuldade em fazer pesquisa por ser mulher. Mas, na prática, ainda encontra preconceito. “Somos das Ciências Agrárias e, profissionalmente, no campo, existe uma indiferença. Quando você vai na propriedade rural para trabalhar com animal, para colocar a mão na massa, sentimos isso, um preconceito dos homens”, diz.

Iniciação científica

Os primeiros passos como pesquisadora da doutoranda em Recursos Naturais do Cerrado da UEG, Anielly Monteiro, de 31 anos, aconteceram ainda na iniciação científica, quando cursava Química. “Lembro que no primeiro período os professores já comentavam e apontavam o caminho da pesquisa e foi o dia a dia e o contato mais próximo com a iniciação científica que me fizeram seguir este caminho”, lembra.

Anielley (foto) vê que, ao longo dos anos, as mulheres têm conquistado espaços que até então eram somente ocupados por homens. “As profissionais das ciências agrárias refletem isso. Hoje em dia o preconceito é menor”, revela.

A iniciação científica também foi a porta de entrada para a ciência da mestranda em Produção Animal e Forragicultura pela UEG, Níbia Sales Damasceno Corioletti, de 30 anos. “Sempre tive um interesse pela pesquisa, que foi se aprofundando durante a fase da graduação. Meus professores, percebendo esse talento, sempre me incentivaram a me especializar, a dar continuidade aos meus estudos e futuramente ministrar aulas em instituições e também contribuir com a ciência, com a comunidade local, levando soluções, tecnologias que auxiliem os produtores e também profissionais das ciências agrárias as difundir”, explica.

Números

Segundo dados da Unesco, estima-se que apenas 30% dos cientistas do mundo sejam mulheres. Do total de estudantes matriculados em cursos de Ciência, Tecnologia, Engenharias e Matemática, somente 35% são mulheres.

No Brasil, a participação das mulheres na ciência também é pequena. Apesar de os números de mulheres com bolsas de iniciação científica e também as com mestrado e com doutorado serem superiores ao dos homens, as mulheres representam apenas 36,63% do total de bolsistas de Produtividade em Pesquisa do CNPq, de acordo com dados do próprio órgão em 2021.

Na Universidade Estadual de Goiás, as mulheres representam 41,6% do total de pesquisadores. Atualmente, o número de projetos de pesquisa em execução na Universidade é de 543, sendo que desses, 226 são de docentes mulheres. 

Incentivos

Para aumentar a conscientização sobre a importância da participação das mulheres na ciência, em 2015 a Assembleia Geral das Nações Unidas declarou 11 de fevereiro como o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência. A ideia é enfrentar os principais desafios mundiais e alcançar todos os objetivos e metas da Agenda 2030.

Há um esforço para aumentar a participação das mulheres na ciência no Brasil. Segundo o CNPq, há uma atuação pioneira no país na implementação de ações para fomentar a equidade de gênero nas ciências. O órgão busca, desde 2005, fomentar a participação plena das mulheres na Ciência e Tecnologia com o Programa Mulher e Ciência.

O Programa também tem por objetivo apoiar os estudos sobre mulheres, relações de gênero e feminismos. Ao longo de mais de uma década, já desenvolveu uma série de ações de divulgação, de apoio à carreira das pesquisadoras, de fomento à pesquisa sobre a temática e de realização de encontros nacionais para discussão de políticas associadas aos objetivos do Programa.

Sobre a sub-representação de mulheres nas ciências Exatas, Agrárias e Engenharias, o CNPq diz que implementou duas chamadas públicas denominadas “Meninas e Jovens Fazendo Ciências Exatas, Engenharias e Computação”, que financiou aproximadamente 450 projetos de inserção de estudantes do sexo feminino, com um total aproximado de R$ 17 milhões em investimentos. Esses projetos possibilitam a aproximação e a vivência da pesquisa por estudantes do Ensino Fundamental, Médio e Superior.

(Dirceu Pinheiro|Comunicação Setorial|UEG)