Crer realiza procedimento inédito com aparelho auditivo de condução óssea

A menina Helloá, de 2 anos de idade: mais qualidade de vida, com técnica pioneira utilizado no Crer. (Foto: Sckarleth Martins)

O Centro Estadual de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo (Crer), unidade do Governo de Goiás, concedeu a uma paciente, de maneira inédita, na segunda-feira, 15, o dispositivo que devolve a audição a pessoas com surdez parcial, conhecido como aparelho auditivo de condução óssea.

A captação do som por esse dispositivo ocorre de maneira muito similar à dos aparelhos auditivos convencionais. Entretanto, em vez de a transmissão do som ser através do canal auditivo, via condução de ar, o dispositivo transforma o som em vibrações, que são transmitidas através do crânio para dentro da cóclea, no ouvido interno. Assim, a audição por condução óssea mobiliza a capacidade natural do corpo para conduzir o som.

Dalcília Rodrigues da Silva, mãe da paciente Helloá, de 2 anos de idade, relata que soube da condição auditiva da filha apenas no nascimento, quando se deparou com a avaliação da médica pediatra. “Foi muito difícil para mim, no começo. Um baque mesmo, por não saber o que fazer, onde buscar ajuda”, diz.

Helloá tem uma condição chamada de microtia unilateral, que é uma má-formação na orelha, onde o canal externo de passagem de som é fechado. Por causa da microtia, a criança tem dificuldade em distinguir os sons quando está diante de várias fontes de barulho. Ainda assim, seu cotidiano é como o de qualquer outra criança, na maior parte do tempo.

Diagnóstico

Moradora de Cocalzinho, Dalcília relata que a cada exame chegava mais próximo do diagnóstico da   filha, e era amparada pela equipe multiprofissional da unidade de saúde composta por assistentes sociais, fonoaudiólogos, psicólogos, terapeutas ocupacionais e fisioterapeutas.

“Quando eu comecei a buscar por um tratamento para a Helloá, me disseram que ela não poderia ouvir, não aprenderia a falar. Hoje é um dia muito especial para toda a minha família, porque é uma vitória muito importante. Saber que ela pode ouvir e pode aprender a falar é uma alegria muito grande”, relata Dalcília, emocionada.

Fonoaudióloga do Crer, Débora Aparecida Gobbo explica que esse tipo de aparelho concedido a Helloá envia vibrações através do crânio diretamente para a cóclea, para depois serem processados pelo cérebro e significados como som pelos pacientes. Por causa da idade da paciente e da densidade óssea de seu crânio, o dispositivo fica acoplado a uma faixa na cabeça da criança e alocado atrás da orelha.

“Aqui, no Crer, a gente trabalha desde o diagnóstico. Então, a gente vive o momento do luto da família, porque, de repente, você se depara com um diagnóstico de deficiência auditiva. Mas a gente tem o prazer de acompanhar, também, o que vem depois. Então, seja no aparelho auditivo, no implante coclear ou, agora, nas próteses osteoancoradas, a gente consegue ver o desenvolvimento e a retomada da qualidade de vida dessas crianças ou adultos mesmo, que conseguem o benefício agora”, explica a fonoaudióloga.

A profissional ainda ressalta a importância da estimulação ambiental e familiar para esse paciente retomar sua sociabilidade. “Nós frisamos muito que o paciente receba esse processo de estimulação, vá para a fonoterapia, e frisamos muito a importância do papel da família. O trabalho tem de ser contínuo”, orienta.

Novos sons e experiências

O diagnóstico do grau de perda auditiva e as recomendações terapêuticas são realizadas por um profissional fonoaudiólogo ou otorrinolaringologista. Estes realizam testes para avaliar a audição dos pacientes e qual dispositivo é indicado, elaborando um Plano Terapêutico Singular (PTS), no qual são consideradas as condições clínicas, a faixa etária do paciente etc.

A gerente de Reabilitação Auditiva e Intelectual do Crer, Thaís Nasser Sampaio, esclarece que esse é o resultado de um trabalho feito em equipe com a ‘expertise’ de profissionais de múltiplas formações. “Ao oferecer oportunidade à inclusão e à readaptação através da dispensação destes dispositivos, objetivamos melhorar o desenvolvimento da fala e da linguagem dessas crianças. Ou seja, trata-se de melhorar o potencial de comunicação e socialização desses indivíduos. Sem dúvida, é abrir novos mundos às pessoas surdas e ensurdecidas”, acrescenta a profissional.