Pesquisadores da UEG descobrem novas espécies de cogumelo e bolor

A validação das espécies como novas para a ciência só foi possível depois de estudos minuciosos que incluem a comparação com todas as outras espécies parecidas, para a constatação que nunca ninguém havia antes encontrado

A equipe do Laboratório de Micologia Básica, Aplicada e Divulgação Científica (FungiLab) do Câmpus Central da Universidade Estadual de Goiás (UEG), em Anápolis, descobriu, recentemente, duas novas espécies de fungos no cerrado. A primeira é um cogumelo e a outra um bolor.

As descobertas são parte da pesquisa de doutorado dos estudantes do Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais do Cerrado (Renac|UEG), Lucas Leonardo da Silva e Antônio Sérgio Ferreira de Sá, orientados pela professora doutora Solange Xavier dos Santos.

Batizado como Furtadomyces sumptuosus, o cogumelo foi encontrado em uma área de mata da Floresta Nacional de Silvânia. Unidade de conservação na região centro-sul do estado de Goiás, que abriga diferentes fisionomias vegetacionais típicas do cerrado.

Segundo os pesquisadores, o nome escolhido deve-se às características do cogumelo, que é robusto, suntuoso, bem diferente do que se conhece como um cogumelo tradicional. 

Lapa do Bezerra

Já o bolor foi encontrado em uma das cavernas do Parque Estadual Terra Ronca, localizado no município de São Domingos, no nordeste do estado. O nome científico da espécie, Preussia bezerrensis, foi dado em homenagem à caverna onde ele foi encontrado, que é conhecida como Lapa do Bezerra.

Pesquisadores da UEG descobrem novas espécies de cogumelo e bolor
O nome do novo bolor homenageia a caverna Lapa do Bezerra (Foto: UEG)

“A caverna é santuário natural, de rara beleza e muito difícil acesso. Por isso, a natureza lá se mantém quase intacta”, explica a professora Solange Xavier. 

A professora conta que o reconhecimento e validação das espécies como novas para a ciência só foi possível depois de estudos bastante minuciosos. Eles incluem a comparação com todas as outras espécies parecidas, para a constatação de que de fato nunca ninguém havia antes encontrado.

“Para isso leva-se em consideração não apenas a aparência física, mas também outras características, incluindo a análise microscópica de suas estruturas e, também, o seu material genético, seu DNA. Isso permite ainda verificar o grau de parentesco com outras espécies de fungos já conhecidos”, salienta. 

Os resultados das descobertas estão nas publicações, em 2022, das revistas científicas internacionais Mycological Progress, volume 21 e Persoonia – Molecular Phylogeny and Evolution of Fungi, volume 49

Os pesquisadores

Após a conclusão do doutorado, Lucas Leonardo da Silva candidatou-se a uma bolsa de pós-doutorado no mesmo laboratório. Sua pesquisa estuda os fungos conhecidos como orelhas-de-pau do cerrado, que quase sempre crescem sobre madeira, são grandes e facilmente visíveis.

Lucas Leonardo acrescenta que os fungos que crescem sobre madeira merecem destaque, uma vez que, por serem capazes de degradar e usar como alimento esse substrato de grande resistência, que é a madeira. Eles ainda são capazes de decompor uma infinidade de poluentes e promover a ciclagem de nutrientes e, consequentemente, o equilíbrio dos ecossistemas.

Pesquisadores da UEG descobrem novas espécies de cogumelo e bolor
Equipe do Laboratório de Micologia Básica, Aplicada e Divulgação Científica (FungiLab) do Câmpus Central da Universidade Estadual de Goiás (UEG), em Anápolis, descobriu, recentemente, duas novas espécies de fungos no cerrado (Foto: UEG)

Já Antônio Sérgio Ferreira de Sá está estudando os fungos que ocorrem em cavernas do cerrado. Esses fungos são microscópicos, ou seja, tão pequenos que só podem ser vistos quando estão aglomerados, formando colônias, ou então, com o auxílio de microscópios.

Risco à saúde

O pesquisador explica que entre esses fungos de ambientes cavernícolas, alguns oferecem risco para a saúde. É o caso de algumas espécies que vivem associadas a fezes de morcegos, que causam séria infecção pulmonar se forem inaladas pelas pessoas que adentram as cavernas.

Esse foi, inclusive, um dos objetivos do estudo do Antônio Sérgio. O objetivo era verificar a ocorrência desses fungos nas cavernas do parque e com isso o risco de visitação turística nessas áreas. Antônio Sérgio esclarece que nem todas as espécies de fungos encontradas nesses ambientes são prejudiciais.

“Se considerarmos que os fungos são capazes de sobreviver em condições bastante rudes, em função da ausência de luz, que reduz drasticamente a disponibilidade de nutrientes nas cavernas, faz com que eles desenvolvam mecanismos bastante peculiares para aproveitar os poucos, ou poucos convencionais, recursos orgânicos disponíveis para garantir sua sobrevivência”, explica.

Antônio Sérgio acrescenta ainda que as características fazem dos fungos candidatos ideais para explorar as propostas de aplicação biotecnológica. Como, por exemplo, na despoluição de ambientes poluídos por substâncias de difícil degradação.

Próximos passos

A professora Solange Xaiver, que orientou as pesquisas, explica que os próximos passos da pesquisa do FungiLab estão na prospecção das novas espécies. Serão investigadas o que as substâncias produzem, ondem podem ter aplicação em diversas áreas, inclusive moléculas desconhecidas.

“Os fungos agora são domesticados, ou seja, cultivados em meio de cultura no laboratório para que possam ser estudados quanto ao seu potencial biotecnológico”, ressalta.

O Laboratório de Micologia Básica, Aplicada e Divulgação Científica (FungiLab), coordenado pela professora doutora Solange Xavier dos Santos, vinculada ao curso de Biologia e aos programas de Pós-Graduação em Recursos Naturais do Cerrado e Mestrado Profissional em Ensino de Ciências da UEG, desenvolve pesquisa envolvendo diferentes grupos de fungos, especialmente com foco no cerrado.

Pesquisadores da UEG descobrem novas espécies de cogumelo e bolor
Próximo passo é investigar quais substâncias produzem, ondem podem ter aplicação em diversas áreas, inclusive moléculas desconhecidas (Foto: UEG)

As pesquisas, segundo a professora Solange, contribuem para a diminuição das lacunas no conhecimento da biodiversidade na região, bem como do seu potencial de exploração econômica.

“Além disso, o laboratório tem como missão promover a popularização da ciência micológica (ciência que estuda os fungos), através de diferentes recursos e estratégias de divulgação científica”, explica.

Conheça mais sobre o Fungilab em https://micologiaueg.wixsite.com/fungilab e @fungilab_ueg.