Xeque-Mate no Crime é mais uma ação de ressocialização da DGAP

CPP de Luziânia conta hoje com 40 tabuleiros de xadrez espalhados pelas celas (Foto: Polícia Penal)

Engenheiro de software formado pela Universidade de Brasília (UnB), com mestrado em Inteligência Artificial. Tricampeão goiano de xadrez, campeão brasileiro universitário pela UnB. Esse é o currículo de Cleiton da Silva Gomes, 32 anos, o novo instrutor de xadrez dos custodiados da Casa de Prisão Provisória Policial Penal Jailton Barbo Ferreira, em Luziânia, no Entorno do Distrito Federal.

Cleiton está auxiliando o diretor da CPP, Silvio Duarte Santana, na instalação do projeto Xeque-Mate no Crime, dentro da unidade prisional. A ação, iniciada em fevereiro, está em fase de implementação e envolve aproximadamente 100 custodiados. Posteriormente, será levado para todos os 270 internos.

“O projeto é embrionário. Estamos utilizando a CPP como um laboratório. Ao longo de três fases de implementação, vamos analisar os prós e contras do xadrez, inclusive com estatísticas sobre os resultados. O objetivo, no futuro, é envolver o máximo possível de presos. todos que queiram praticar”, explica o diretor Silvio Santana.

Cleiton é ex-custodiado da CPP. Ficou preso por seis meses, até 14 de março deste ano, quando ganhou a liberdade na primeira audiência com o juiz, antes das alegações finais do processo. Ele é acusado de participação no homicídio de um adolescente que teria invadido sua propriedade rural para roubar, há dois anos.

“Quando eu saí, falei com o diretor Silvio que não deixaria o projeto na mão. Eu pedi para voltar e dar continuidade às aulas. Toda quarta-feira, retorno ao presídio para continuar o meu trabalho.”

Xeque-Mate no Crime

A função de Cleiton, no projeto, é a de formar multiplicadores dentro da CPP. Ele ministra as aulas para 18 custodiados, durante duas horas, dentro da sala de aula da unidade.

Esses multiplicadores repassam o conhecimento aos demais colegas de cela e são beneficiados com a remição de pena, conforme determina a Lei de Execução Penal (LEP).

“O tempo na prisão me fez evoluir bastante como cidadão. Hoje sou uma pessoa mais aberta e equilibrada. Aprimorei meu senso de justiça. Quero dar esperança de reintegração social aos presos. Quando a gente faz algo bom, Deus abençoa. Você não imagina a felicidade dos presos nas aulas e o quanto eles me agradecem quando vou embora. Não poderia deixar de continuar participando do projeto”, afirma Cleiton.

A CPP de Luziânia conta hoje com 40 tabuleiros de xadrez espalhados pelas celas. Os jogos ficam direto com os custodiados, para que eles possam disputar partidas a qualquer momento.

“A importância do Cleiton não é só na multiplicação. É importante sua presença até para que a gente verifique a aprendizagem e efetividade do projeto, se os presos estão ou não utilizando o xadrez de maneira correta. É um processo a longo prazo, pois o xadrez não é uma ciência fácil. Por isso, precisamos continuar com a contribuição dele”, explica o diretor Silvio Santana.

Diretor-geral de Administração Penitenciária, Josimar Pires diz que, caso o projeto venha ter sucesso em Luziânia, especialmente contribuindo com a ressocialização e redução do ócio dentro das celas, o Xeque-Mate no Crime poderá ser levado às demais unidades prisionais geridas pela DGAP no Estado.

O projeto Xeque-Mate no Crime é iniciativa da Diretoria-Geral de Administração Penitenciária (DGAP), por meio da Gerência de Educação, Módulo de Respeito e Patronato, pertencente à Superintendência de Reintegração Social e Cidadania (Supresc).

Importância do xadrez para o ensino

O xadrez é uma atividade esportiva inserida na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do Ministério da Educação (MEC). O BNCC define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo da Educação Básica.

A prática contribui para o bom rendimento escolar, reduz a evasão dos alunos, aumenta a atenção, a concentração e a capacidade de raciocínio nas tarefas escolares.

Dentro da prisão, o xadrez tem missão semelhante. Para ganhar do oponente, é necessário que o jogador tenha paciência e elabore estratégias e táticas vencedoras. Uma única decisão errada pode levar o jogo à derrocada.

“É um desafio mental. O xadrez treina a resiliência. Ele ensina a vencer e a perder. Da mesma forma é o jogo da vida. Nós precisamos aprender a vencer e a perder, pensar antes de agir e dar os passos certos”, explica o diretor da CPP de Luziânia, Silvio Duarte Santana.